MEMÓRIAS ESMERALDINAS: América 2x2 Portuguesa, em 1946 (2ª PARTE)



Foi divulgado que os prováveis quadros para a partida seriam os seguintes:

Escalação de ambas equipes.
PORTUGUESA: Caxambú; Lorico e Nino; Luizinho, Manoelão e Hélio; Renato, Artur, Nininho, Pinga e Capelozzi. Treinador: Conrado Ross.

AMÉRICA: Leça; Deusdedith e Lucas; Pedrinho, Edgard e Astrogildo; Zizinho, Julinho, Djalma, Dengoso e Oseas. Treinador: Álvaro Barbosa.

O jogo contou com uma numerosa e entusiasta torcida na noite daquela quinta feira no Estádio dos Aflitos. As 21:05 h o árbitro João Etzel apita e a bola rola, tendo Djalma do América dado a saída e sem perder tempo lança a bola para seus companheiros de ataque mas Lorico, defensor da Lusa afasta e arma contra-ataque em favor dos paulistas que com Nininho,  chuta com perigo por cima do gol de Leça. Muita movimentação nos dois lados. Aos 5 minutos a Portuguesa tem uma falta a ser cobrada contra o gol defendido por Leça. Luizinho bate com maestria e Pinga cabeceia por cima do gol.

O América reage logo a seguir, quando Oseas e Dengoso trocam passes na entrada da grande área defendida por Caxambú, mas Lorico aparece mais uma vez e tira o perigo. A jogada gera contra-ataque paulistano e Artur arrisca um forte chute de longa distância e a bola passa ao lado do poste direito de Leça, causando um “frisson” na torcida.

Aos 10 minutos em um ataque do América, Djalma avança recebendo forte marcação de Lorico que ao entrar na área o desfere um carrinho. A bola sobra do outro lado para Dengoso que dá um lindo passe para Oseas que de frente ao goleiro Caxambú da Portuguesa, desfere um violento chute, indefensável para o arqueiro rubro-verde, levando ao delírio a torcida pernambucana. É Gol do América! Oseas assinala o primeiro tento em favor dos alvi-verdes.

Disputa de bola entre Pinga da Lusa e Oseas do América.
Aos 15 minutos a Lusa ataca. Hélio é derrubado por Julinho e Edgard e o árbitro marca a falta. A cobrança de Manoelão encontra Capelozzi livre e de frente com Leça, mas a bola passa sobre o gol levando muito perigo. O América vai para cima com Julinho que solta um míssel, mas o defensor Nino tira para corner. Zizinho cobra o escanteio, mas a zaga da Portuguesa afasta para longe do gol defendido por Caxambú. Aos 20 minutos, Pinga da Portuguesa avança e passa por Deusdedith e Nininho, mas, chuta fraco nas mão de Leça que defende com segurança. O América dá o troco, numa bela jogada de Zizinho que é derrubado por Hélio.

Na cobrança da falta, Deusdedith chuta forte e Manoelão tira de qualquer maneira. Ataque da Portuguesa por meio de Renato que avança driblando vários americanos e chuta um torpedo ao gol, mas Leça como se fora a “bola da vida” atira-se numa raça monstruosa e desvia a “redonda” para escanteio fazendo o estádio gritar o seu nome. Na cobrança do escanteio por Capelozzi a retaguarda americana tira sem problemas.

O América joga uma partida incrível, na qual a sua raça, dedicação e disciplina fazem com que o jogo seja altamente vistoso ao olhar da torcida. Zizinho e Julinho se destacam e causam pânico à defensiva lusitana. Manoelão é fortemente marcado por Edgard “O Arquiteto” e não consegue apresentar o bom futebol da estreia. Leça e sua segurança debaixo das traves incentiva ainda mais seus companheiros. O defensor Lorico da Portuguesa falha e cede escanteio para o América aos 32 minutos. A cobrança é perfeita de Oseas e encontra Astrogildo que solta um “canudo” por cima do gol de Caxambú.

Pinga, da Lusa arma um belo ataque para os paulistas, mas é derrubado em lance duvidoso por um jogador do América e cai. Pinga levanta e discute bravamente com o árbitro João Etzel pela não marcação da falta, porém, o juiz se impõe e ameaça o jogador lusitano de expulsão. A partir dos 35 minutos a Portuguesa resolve ir para frente deixando a defesa desguarnecida e pressiona o América fazendo Leça trabalhar de forma impressionante, ajudado por Deusdedith, Edgard e Lucas que fazem o possível para impedir as investidas do ataque rubro-verde.

Dengoso do América encontra a defensiva da Lusa desprotegida aos 42 minutos e dá um belo passe para o gênio Oseas que avança sem marcação, pois a zaga ainda estava voltando. Oseas quase na pequena área passa a bola para Djalma que vinha pela esquerda e toca para o fundo das redes do goleiro luso, fazendo o placar se alterar para 2x0. É gol do América! A entusiasmada torcida vibra com o resultado parcial nos Aflitos e o time vai para os vestiários com o placar a favor.

Renato, Nininho e Pinga: atletas da Portuguesa
juntos em foto de 1952.
Vem então o segundo tempo que se inicia as 22h e o América pressiona de forma incrível, fazendo Caxambú segurar três bolas chutadas por Oseas nos primeiros dois minutos! bem...quem não faz leva! Oseas perde a bola para Renato ainda no setor de ataque esmeraldino. O jogador da Lusa corre e de muito longe dá o passa para o jogador Nininho que se desvencilha de Deusdedith ficando frente e frente com Leça. O goleiro do América vai na bola mas é driblado por Nininho que desconta no placar. Era o gol da Portuguesa. Apenas um minuto e meio depois, a Portuguesa sufoca o América e gera um tremendo bate-rebate na defensiva, sobrando a bola para Capelozzi que sem marcação toca para o fundo das redes de Leça, vindo a empatar a partida. O América não desanima e vai para o ataque, tanto que Dengoso solta um torpedo que passa “tirando tinta” da trave esquerda de Caxambú. A Portuguesa também volta a atacar e Leça pratica boas intervenções. O treinador Álvaro Barbosa enxerga a queda de produção de Deusdedith e Edgar e os substitui aos 13 minutos por respectivamente Galego e Capuco para fechar a retranca.

Reportagem do Diário de Pernambuco na sexta feira, 11
de janeiro de 1946, um dia após o jogo.
Lucas do América sofre falta violenta cometida pelo lusitano Nininho e passa o restante do jogo com fortes dores no tornozelo. Aos 25 minutos num perigoso ataque da Portuguesa, Capelozzi recebe a bola de frente para Leça, mas, é desarmado na hora H por Lucas. Luisinho da Portuguesa desarma Oseas  e corre em direção a meta e dá passe para Artur que cruza na cabeça de Nininho que arremata, fazendo Leça interceder de forma milagrosa salvando o Mequinha. Aos 30 minutos o bombardeio lusitano; Renato, Artur e Capelozzi chutam mas Lucas, Galego e Capuco fazem o possível para afastar. No último lance a bola sobra para Pinga que é atrapalhado por Leça e chuta por cima do travessão. Galego cede escanteio cobrado pelo lusitano Capelozzi e Leça se agiganta. Astrogildo cede novo escanteio. Nininho cobra nos pés de Luizinho que serve Renato, que chuta e obriga Leça a operar novo milagre.


Nota do Diário de Pernambuco na sexta,
11 de janeiro de 1946.
A partir dos 40 minutos o América pressiona de forma sensível, sempre parando na frente do defensor Luizinho. Faltando apenas um minuto para o fim, entra Valdeque no lugar de Dengoso para fechar a defesa. As 22:45 h o árbitro apita o final do jogo e o público presente gerou uma renda de CR$ 29.734,00, valor bastante lucrativo. Final de jogo América (PE) 2x2 Portuguesa (SP).

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