MEMÓRIAS ESMERALDINAS: América 2x1 Santa Cruz em outubro de 1922

Nasciam em 1922 o ator Paulo Autran (Aparício Varella na novela “Sassaricando” de 1987 e o Padre Penaforte do filme “Tiradentes” de 1999), o ex-jogador pernambucano Ademir Menezes (campeão pernambucano de 1941 com o Sport, campeão sul-americano de clubes em 1948 com o Vasco da Gama e campeão sul-americano de 1949 com a Seleção Brasileira), o ex-técnico Lula (bicampeão mundial de clubes com o Santos em 1962 e 1963), o escritor Otto Lara Resende (autor de obras como “O Retrato na Gaveta” de 1962), a atriz espanhola Angelines Fernandez (“Bruxa do 71” do seriado mexicano “Chaves”) e o ex-jogador Waldemar Fiume (campeão da Copa Rio de 1951 com o Palmeiras). Foi o ano da Semana de Arte Moderna em São Paulo, com a participação de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Vitor Brecheret; da proclamação da independência do Egito; da extinção do Império Otomano; da formação da União Soviética e do centenário da independência do Brasil. Faleciam o escritor português Ângelo Jorge (autor de “Gritos de Prometeu” de 1914), o ex-diplomata e recifense Antônio João de Amorim (Barão de Casa Forte), o escritor Lima Barreto (filho de escravos e autor de “Triste Fim de policarpo Quaresma” de 1915), o ex-jogador Mano (tricampeão carioca com o Fluminense em 1917/18/19 e que morreu em virtude de uma hemorragia interna causada por um choque físico numa partida contra o São Cristóvão/RJ) e o religioso italiano Giacomo Della Chiesa (Papa Bento XV).

Em 22 de outubro de 1922 ocorreu mais uma edição do clássico da Amizade entre América e Santa Cruz, tendo o Estádio da Jaqueira como palco deste grande clássico do futebol pernambucano. Este campeonato foi disputado por oito equipes jogando no sistema de pontos corridos em turno único para se decidir o campeão. A sexta e penúltima rodada mexeram com os ânimos do torcedor pernambucano, uma vez que, a disputa pelo título de campeão no ano do centenário da independência do Brasil estava bastante acirrada. Sport e Náutico lideravam o campeonato com 7 pontos cada, enquanto que América, Santa Cruz e Torre possuíam 6 pontos cada um e totalmente dentro da disputa pelo título, fora o fato de que o América ainda não contava com os pontos do jogo contra o Sport, que foi interrompido faltando oito minutos para o fim em função de falta de luz natural, quando o marcador apontava 2x1 para os esmeraldinos. Flamengo, Equador e Peres, todos com dois pontos, já não almejavam nada naquele ano esportivo e ninguém podia dizer com certeza quem levantaria a taça de campeão.

Naquele dia 22, a rodada seria aberta com Sport x Flamengo do Recife no campo da Avenida Malaquias e América x Santa Cruz no campo da Jaqueira. O torcedor do América além de esperar por uma vitória de sua agremiação, ainda deveria ficar na torcida pelo Flamengo, para quem sabe, alcançar a ponta da tabela, sem falar que este Clássico da Amizade estava sendo tratado como uma das finais antecipadas, pois estando as duas equipes dotadas de seis pontos, aquele que saísse perdedor provavelmente não teria mais condições de alcançar seus objetivos. Era matar ou morrer, para os dois lados!

O domingo esportivo no Parque da jaqueira começou às 8h com a disputa dos 3° quadros de América e Santa Cruz e continuou as 14:15h com a disputa dos 2° quadros de ambas as agremiações, sendo que as duas partidas preliminares terminaram empatadas em zero a zero. A arbitragem ficou por conta do Sr. Manoel Lopes, auxiliado por Edgar Costa e Edgard Silva, que exatamente às 16:00h deu início ao clássico América x Santa Cruz no Parque da Jaqueira. O América no início defendeu o lado onde havia mais sombra e o Santa Cruz deu o pontapé inicial, este que lhe rendeu um grande ataque logo nos primeiros minutos, por intermédio do seu atacante Batista, que chutou com perigo ao gol do goleiro Nozinho do América, animando os tricolores presentes ao estádio. Minutos depois foi a vez do “Mequinha” reagir e em uma grande jogada armada por Zé Tasso, a bola foi lançada nos pés do atacante Juju, que ao chutar a bola quase de frente com o arqueiro Hilton do Santa Cruz, foi travado pelo defensor Bebé que afastou o perigo de gol na hora certa, para a animação da torcida verde e branca na Jaqueira.

A partida estava movimentada e em outra bela jogada armada por Zé Tasso, a bola é lançada para Lapinha, que sofrendo forte marcação do meio campista tricolor Manoel, passa a bola para Fabinho e na hora do arremate final ao gol, é desarmado pelo tricolor Zé de Castro, que chutou a bola para longe. Aos 22 minutos houve o primeiro lance inusitado da peleja. O Santa Cruz atacou a velocidade costumeira do atacante Batista que se desvencilhou da retaguarda americana e chutou com perigo, fazendo a bola sair pela linha de fundo, entretanto, a bola que já havia transpassado a última linha, gerando um tiro de meta, bateu no pé de um guarda civil que se encontrava de costas para o lance, fazendo com que a pelota voltasse para dentro de campo e vendo isso como uma oportunidade, o atacante Batista chuta novamente contra o gol de Nozinho, que nem pulou em direção à bola.

Ilustração de América x Santa Cruz no Estádio do Parque da Jaqueira
em 22 de outubro de 1922 pelo campeonato pernambucano
Para a surpresa de todos os esmeraldinos, o árbitro Manoel Lopes, confirmou o gol tricolor, estourando uma grande revolta por parte dos jogadores que estarrecidos cercaram, o juiz do jogo em meio a inúmeros gritos ofensivos dirigidos a ele pela torcida verde e branca, pela marcação de um gol em favor do Santa Cruz, em totais condições de invalidade. O guarda sumiu e sob protestos, a partida foi reiniciada com o placar de AMÉRICA 0X1 SANTA CRUZ para a alegria da torcida coral. Os jogadores do América estavam com sangue nos olhos, de tanto descontentamento com a arbitragem do Sr. Manoel Lopes e aos 27 minutos Zé Tasso dominou a bola no meio de campo e avançou passando para Jujú, que rapidamente tocou para Fabinho, vindo a receber forte marcação de Zé de Castro e de Bebé. Fabinho em uma inteligentíssima jogada deixou na saudade os defensores tricolores e chutou cruzado contra o gol defendido por Hilton para assinalar o gol de empate. É GOL DO AMÉRICA! AMÉRICA 1X1 SANTA CRUZ no Estádio da Jaqueira e a torcida do Mequinha explodiu de felicidade pelo gol e de vingança contra o árbitro da partida, que ainda teve que escutar mais algumas palavras de baixo calão em sua direção. Minutos depois o Santa Cruz encontrou uma grande oportunidade para fazer o segundo gol numa bela jogada do atacante Bulhões, que passou pela defensiva americana e também pelo goleiro Nozinho e tocou rasteiro, mas eis que surge a figura do meio campista americano Zizi, que salva milagrosamente, chutando para fora do estádio a bola que já se encontrava em cima da linha. Haja emoção no clássico.

No último lance do primeiro tempo, o Santa Cruz ataca pelo lado esquerdo e cruza para dentro da área, gerando um tremendo empurra-empurra, que aliado ao clima seco e ao forte vento, levantou uma espessa nuvem de poeira e no meio dela, o atacante tricolor aproveitava para de cabeça jogar a bola no fundo do gol de Nozinho, Todavia, o árbitro anulou o gol alegando já ter impugnado a jogada no momento do cruzamento em virtude da poeira que se levantou. Tricolores protestaram bravamente até o término do 1° tempo, o que não tardou a ocorrer. O segundo tempo começou as 16:50h de forma bastante pegada e aos 10 minutos, num belo ataque do América, Jujú solta o torpedo, que Hilton não conseguiu segurar dando rebote nos pés do célebre Zé Tasso que estava no lugar e hora corretas, para virar o marcador. É GOL DO AMÉRICA! AMÉRICA 2X1 SANTA CRUZ. Explosão alviverde toma conta do parque da Jaqueira, contagiando todos seus torcedores. A partida seguiu com muita raça em ambos os lados até que aos 35 minutos, o juiz deu o jogo por encerrado, pois o sol já se punha no horizonte não dando mais condições de iluminação ao jogo. O Sr. Manoel Lopes alegou que as reclamações quanto ao “suposto passe do guarda” e o “gol anulado devido à poeira” colaboraram para que a partida não chegasse ao seu término regulamentar. Fim de papo com o placar de América 2x1 Santa Cruz e as equipes estiveram assim escaladas:







AMÉRICA:
Nozinho;
Rômulo e Faustino;
Lindolpho, Licor e Zizi;
Araújo, Jujú, Zé Tasso, Lapinha e Fabinho.

SANTA CRUZ:
Hilton;
Bebé e Juquinha;
Zé de Castro, Manoel e Júlio;
Dubeaux, Firmino, Joaquim, Bulhões e Batista.



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