Gol que parece mais um roteiro de cinema

Não existe melhor definição para tento que livrou América da queda
No momento em que o zagueiro Carioca abriu os olhos, na manhã do domingo, 17 de agosto, os sentimentos de pressão e nervosismo se misturaram no corpo do jogador. Havia chegado o dia da decisão para o América! Daquele instante, até o apito final da partida contra o Araripina, o atleta descobriria que seria titular, ganharia do técnico Paulo Júnior a camisa número 4, perderia em quatro oportunidades um gol. Na quinta, arriscaria e se consagraria. O que essas situações têm em comum? Aparentemente, nada! Mas, quando a bola balançou as redes, naqueles 48 minutos do segundo tempo, o defensor entendeu que tudo havia convergido para um objetivo: o herói da partida tinha de ser ele. Mas tudo tem de ter um preço. E o valor pago por Carioca foi a perda de uma boa noite de sono. “Recebi ‘mil’ ligações nas últimas horas. Parece mentira tudo o que está acontecendo comigo. É muito bom todo esse reconhecimento”, disse o zagueiro, que na verdade se chama Diogo Fragoso, e é pernambucano. “Ganhei o apelido porque morei no Rio de Janeiro, quando criança”, falou. Gols, mesmo, esse foi o primeiro. Desde que se tornou profissional, há três anos, o defensor, formado nas categorias de base do Sport, ainda não havia balançado as redes. “Minha função, na verdade, é impedir os gols. Mas, se tinha de haver algum, com certeza, não poderia ter sido melhor”, contou. A personalidade retrancada ficou perceptível logo quando Carioca soube da entrevista com a Folha de Pernambuco. “Não vai ter câmeras de televisão, nem nada... Não é?!” Como um bom zagueiro, nada de ir ao ataque, nas primeiras conversas. “Não sou acostumado com essas coisas de entrevistas, badalação. Sempre fiquei na minha. Isso é tudo muito novo para mim”, revelou. Mesmo assim, poucos minutos - e algumas risadas - destruíram totalmente o sistema defensivo do jogador. “Ter feito esse gol também valeu para que (o zagueiro) Deivid parasse de pegar no pé. Ele já fez gols nesse Estadual. Agora, o foco das gréia será Negretti, que terminou o campeonato em branco”, contou. Os dois companheiros, inclusive, tiveram participações na conquista de Carioca. Deivid, dono da camisa número 4, no esquema de Paulo Júnior, não pôde jogar contra o Bode. “Ele disse que essa camisa daria sorte. Porque, na última vez que vestiu contra o Araripina, fez o gol da vitória aos 49 do segundo tempo”, revelou Carioca, relembrando da vitória por 2x1 sobre os sertanejos, no primeiro turno do Estadual. Já Negretti, companheiro de zaga do último jogo, foi quem o ajudou no heroico gol. “A jogada já havia sido trabalhada pelo professor, conosco. A função dele era puxar a marcação, para eu ficar sozinho, e cabecear. Ainda bem que deu tudo certo.” Filme que, segundo o jogador, passou pelo menos quatro vezes por sua cabeça. “Era uma jogada nossa. Em quatro escanteios, eu tive vontade de ir para a grande área adversária. Mas, como havia me machucado, não fui”, disse o jogador, que acredita ter feito a melhor escolha. “Todo mundo insistiu para eu ir à área, naquela jogada. Eu estava confiante. Então, me arrisquei no quinto escanteio... O fim da história, todo já mundo conhece”. A história do último domingo pode ter acabado. Já o futuro do jogador promete ter outras emoções, ainda este ano. Carioca recebeu propostas de equipes do interior de São Paulo e, também, de clubes que irão disputar a Série A2 de Pernambuco. Assim, outras oportunidades de gols devem surgir na carreira do garoto de 22 anos. No entanto, outro tento como o dos “48 minutos do segundo tempo”, que livrou uma equipe do rebaixamento, deve mesmo ser inesquecível.
TAVARES, Paulo Henrique. Gol que parece mais um roteiro de cinema. Folha de Pernambuco, Recife, 19 abr. 2011. Caderno esportes, p. ?.

Um comentário:

  1. EU DEFINIRIA ESTE ZAGUEIRO COM UMA SÓ FRASE;
    "Ô PREDESTINADO"
    PARABÉNS CARIOCA!!!
    DE MARCÃO

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