1941
Aflitos
América Futebol Clube (PE)
Clube Náutico Capibaribe
Memórias Esmeraldinas
MEMÓRIAS ESMERALDINAS: Náutico 2x2 América em junho de 1941
A seção Memórias Esmeraldinas faz agora um embarque no túnel do tempo e volta para o ano de 1941, ano de nascimento do músico já falecido Dominguinhos e ainda sob o fogo cruzado da Segunda Guerra Mundial. O futebol na Europa estava parado em virtude dos horrores do conflito, mas em Pernambuco o futebol seguia sua caminhada sem intervenções externas. Vamos abordar hoje o confronto entre o Clube Náutico Capibaribe e o América Futebol Clube, o “O Clássico da Técnica e da Disciplina” como era chamado, que ocorreu no dia 15 de junho de 1941, dia em que Itália e Romênia declararam guerra à URSS e há uma semana antes da invasão nazista à extinta União Soviética com a conhecida Operação Barbarossa.
Folha esportiva do Jornal do Commercio de 15 de junho de 1941. |
Naquele 15 de junho de 1941
faziam-se três dias do nascimento do ex-treinador de futebol Antônio Lopes, com
passagens por Sport, Vasco da Gama, Cruzeiro e Atlético-PR onde hoje atua como
diretor. Numa época em que as corridas de cavalos dividiam com o futebol a
folha esportiva do jornal, o América entraria em campo contra o Náutico, depois
de estrear empatando com o Flamengo do Recife, enquanto que os alvirrubros
faziam o seu primeiro jogo no certame. O defensor Zé Orlando faria o seu
primeiro jogo no Náutico depois de defender as cores do Santa Cruz e do América
e o dianteiro Baiano que também faria seu primeiro jogo no Náutico, tendo vindo
do Tramways. Já o clube alviverde da Estrada do Arraial vinha motivado pela
conquista do torneio início daquele ano.
Destaque esportivo do Jornal do Commercio de 15 de junho de 1941 enaltecendo a partida. |
A partida preliminar a se iniciar
as 13:50h seria Náutico x Tramways pela categoria de amadores e seria apitada
pelo Sr. João Batista da Conceição, enquanto que a partida principal Náutico x
América marcada para as 15:20h teria a arbitragem de Zezé Fernandes (ex-jogador
campeão no 1° título do Santa Cruz em 1931), auxiliado nas laterais pelo seu
irmão Júlio Fernandes (que também atuou no Santa Cruz) e por Argemiro Félix. O
delegado deste confronto seria o Sr. Antônio Menezes e a função de cronometrar
o tempo seria dada ao Sr. Edgar Poggi.
No América, Durval entraria na
defesa no lugar de Zé Maria, que foi adiantado para o ataque no lugar de
Japonês. No meio campo, Pompom seria sacado para a entrada de Girão. Na
preliminar de amadores Náutico e Tramways empataram em 3x3. A partida de
profissionais começa e o que se viu de Náutico e América no início foi um
primeiro tempo marcado pelo equilíbrio entre as equipes que muito estudaram as
jogadas do time adversário e não houve muitas chances de gol em ambos os lados.
O primeiro tempo terminou sem gols, entretanto vale destacar que o América
chegou mais perto de abrir a contagem, fazendo o goleiro alvirrubro Sivini a
fazer boas intervenções.
Vem então o segundo tempo e o Náutico
pressiona o América nos primeiros dez minutos em busca do primeiro gol. Em
virtude dessa subida ao ataque, os defensores alvirrubros também se adiantaram
e deixaram um espaço grande e foi aí que surgiu o primeiro gol da partida. O
defensor americano Durval deu um belo passe para o atacante Eure. Ele conseguiu
ver a defesa desarrumada do Náutico e disparou com a bola pelo lado esquerdo de
ataque e mesmo recebendo forte marcação do alvirrubro Salvador, Eure fez
brilhar a sua melhor categoria e como uma flecha entrou na grande área e tocou
na saída do goleiro Sivini do Náutico para mexer no placar. É GOL DO AMÉRICA!
Náutico 0x1 América no placar dos Aflitos.
Ilustração de Náutico x América em 15 de junho de 1941: o Clássico da Técnica e da Disciplina no Estádio dos Aflitos em Recife. |
O gol mostra ao Náutico que
avançar de forma desordenada contra o América equivale a suicídio e muda a sua
postura extremamente ofensiva e a partida ganha o mesmo ar de equilíbrio do 1°
tempo. Alguns minutos mais tarde, o Náutico avança, mas a pelota fica sob posse
do defensor Barbosa do América que faz um passe muito longo fazendo a bola
atravessar quase todo o comprimento do campo. O goleiro Sivini do Náutico vendo
a bola vir em sua direção sai para afastar o perigo e impedir que Eure e
Pinhegas do América que corriam em sua direção se apoderassem da bola,
entretanto, a redonda ao quicar no gramado toma rumo inesperado surpreendendo
Sivini que se assusta e sai de forma atabalhoada. Vendo a grande oportunidade,
Eure dispara rumo à bola e se antecipa ao goleiro alvirrubro, driblando-o para
chutar a bola para o gol totalmente livre. É GOL DO AMÉRICA! Náutico 0x2
América nos Aflitos e as coisas começam a ficar feias para o clube de Rosa e
Silva.
O Náutico demora um pouco para se
recuperar do golpe, mas reage. O alvirrubro Celso avança pela esquerda
recebendo marcação de Barbosa do América. Ele é driblado por Celso que antes de
entrar na grande área, recebe um puxão na camisa por parte do zagueiro Barbosa
e o árbitro Zezé Fernandes marca a infração. Na cobrança de Celso, a bola cai
no outro lado para Zezé que consegue enxergar Wilson e lhe cede a pelota para
ficar de frente com o goleiro Leça, que vai à bola, mas não consegue impedir o
gol alvirrubro. Náutico 1x2 América e o clube aristocrático voltava a ter
esperanças de um bom resultado.
Folha esportiva do JC em 17/06/1941 (não saiu edição na segunda) |
Várias oportunidades de gol surgem, mas o goleiro Leça mostra o porquê de ser considerado um dos melhores goleiros do campeonato com suas arrojadas defesas. O clube esmeraldino se fecha em seu setor defensivo e aposta nas jogadas de contra ataque em busca do terceiro gol. Faltando poucos minutos para o fim do jogo, um tremendo bate-rebate na defesa do América faz com que a bola caia nos pés do alvirrubro Wilson que arremata para o gol defendido por Leça. Segundo a imprensa, um gol que teve a sorte como principal estrela. Náutico 2x2 América. Os alviverdes ainda buscam o tento que lhes daria a vitória, mas deu tempo e pouco depois do gol de empate, o árbitro Zezé Fernandes apita o final do clássico. 2x2 no placar
A arbitragem de Zezé Fernandes
transcorreu com algumas falhas pontuais e esporádicas, mas nada que viesse a ser
responsável por mudança no resultado final da partida. As equipes entraram
naquela partida com as seguintes escalações:
NÁUTICO:
Sivini;
Zé Orlando e
Salvador;
Guilherme, Periquito e Alencar;
Zezé, Wilson, Orlando, Baiano e
Celso.
AMÉRICA:
Leça;
Durval e Barbosa;
Pedrinho, Capuco e Girão;
Zé Maria, Isaac, Eure, Edgar e Pinhegas.
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