América-PE ressurge na elite do Estadual e sonha com estádio

Depois de 15 anos, tradicional time reconquista vaga na Série A de Pernambuco. A nova casa do Mequinha deve ser em Abreu e Lima

Por Guilherme Buarque Foram 15 anos de agonia. Mas a temporada de 2010 ficou marcada pelo 'renascimento' de um tradicional clube de Pernambuco. Amargando a Segunda Divisão estadual desde 1996, o América-PE retornou à elite graças ao vice-campeonato na Série B. Em 2011, finalmente voltará a disputar partidas oficiais contra os grandes Sport, Náutico e Santa Cruz. Aliás, os três principais times do Recife dividem os títulos do Campeonato Pernambucano desde 1945. A última conquista de uma equipe "diferente" ocorreu em 44. Quem foi campeão? Justamente o América. Foi o sexto troféu estadual do Mequinha, que também já festejou em 1918, 19, 21, 22 e 27. Ao todo, o clube pelo qual torcia o escritor João Cabral de Melo Neto ocupa a quarta colocação no número de taças em Pernambuco. A caminhada para a recuperação começou em janeiro, quando o presidente João Antônio Moreira assumiu estatuariamente. A primeira meta era achar um estádio para jogar, já que o clube não tem um campo próprio. A procura foi árdua, mas a Prefeitura de Paulista acabou cedendo o Ademir Cunha.

Jogadores do América-PE festejam a classificação para a Série A

- Foi uma campanha dificílima. Até o dia 7 de maio, dois dias antes da estreia, não tínhamos onde jogar. O Ademir Cunha estava interditado, e a primeira missão foi trabalhar para colocar o campo de acordo com o Estatuto do Torcedor. Consequentemente, eu não tinha um grupo fechado para a Série A-2. Fui montando a equipe ao longo dos meses. Tanto que, do time que fechou a competição, poucos estavam desde o começo. O próprio Muller (herói do jogo decisivo com três gols) chegou faltando um mês para acabar o torneio - disse o presidente, por telefone, ao GLOBOESPORTE.COM. Coincidências com o América-RJ O América foi fundado em 12 de abril de 1914, batizado de João de Barros Futebol Clube. A troca de nome aconteceu em 22 de agosto de 1915, após a ilustre visita de Belfort Duarte, um dos jogadores mais importantes do Brasil na época e líder do América, do Rio de Janeiro. Belfort Duarte foi distinguido como capitão honorário do clube pernambucano e o renomeou como forma de homenagem ao seu time de coração.

Fachada da sede do América, localizada no bairro de Casa Amarela

E a coincidência com o clube carioca parecia já estar traçada. Assim como o xará do Rio, o América-PE possui grande simpatia entre os torcedores locais. Entre os nordestinos, também é conhecido como o "segundo time de quase todo pernambucano". A diferença está nas cores. Ao contrário do carioca, não é alvirrubro, e sim alviverde. Outro fato que chama a atenção entre os Américas é o passado glorioso, seguido de anos de declínio. Após os seis títulos estaduais, o Mequinha de Casa Amarela hoje tem papel apenas secundário no futebol estadual. A torcida, que já foi a terceira maior de Pernambuco (maior até que a do Náutico), hoje não possui mais um número expressivo. Mesmo assim, a festa foi grande no Recife após o retorno à elite. - Eu sabia que o América era querido, mas não imaginava que fosse tanto. O acesso teve a maior repercussão possível. Pouca gente falou do Petrolina (campeão da Série A-2). É um time de que todo mundo gosta. Eu vi muitos jovens festejando, e jamais imaginava que fosse ver isso. Achava que só tínhamos torcedores na faixa dos 50, 60 anos - disse Moreira. A longa espera para volta à nata do futebol do estado teve uma justificativa: a falta de recursos. O sonho do acesso esteve próximo em duas oportunidades. Mas, em 2006 e 2008, o América terminou uma colocação abaixo entre os classificados para a Série A. – De 1995 para cá, tivemos muitos problemas financeiros. Inclusive, algumas vezes deixamos de participar do campeonato da A-2 por falta de recursos financeiros. Muitos das diretorias anteriores fazem parte da minha diretoria. Acho que minha vivência no futebol ajudou (Moreira já foi diretor do Santa Cruz), pois os dirigentes não tinham a malícia do futebol. Trabalhavam apenas pelo amor ao clube. E mesmo assim bateram na trave duas vezes. E eu também tive muita sorte. Até o último jogo, estávamos na dependência de outros resultados. Mas graças a Deus deu tudo certo na última rodada - frisou o dirigente. Estádio em pauta para o centenário O próximo objetivo do América é conseguir um lugar na Série D do Brasileirão. Para isso, precisa conseguir uma das duas vagas do estado a serem disputadas no próximo Campeonato Pernambucano, que começa em 16 de janeiro de 2011. A última vez que o Mequinha esteve em uma competição nacional foi em 1990 – quando participou da Série C. Mais à frente, a intenção da atual diretoria é construir um estádio próprio. Nos últimos anos, o time peregrinou bastante pelas cidades do estado. Já jogou em Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca, Bonito, Goiana, Timbaúba e Vicência até chegar a Paulista. O clube já tem um projeto feito e vem trabalhando para colocá-la em prática até o centenário do clube, em 2014. O estádio pode ser erguido em Abreu e Lima, municício da região metropolitana do Recife. - Estamos com uma parceria adiantada com a Prefeitura de Abreu e Lima. Já temos uma área de dois hectares* em processo de desapropriação, onde pretendemos montar um CT e o nosso estádio. Não é nada grandioso, mas para o América é o céu. Já estou buscando investidores, e o acesso vem abrindo portas. Venho recebendo telefonemas e tenho algumas pessoas interessadas em patrocinar o América. Para você ver, eu fiz a Série A2 sem patrocínio – disse Moreira. A alegria dos torcedores voltou. Os homens que comandam o clube estão empenhados em voos mais altos. Agora é esperar para ver se continuará dando certo o projeto de reestruturação do simpático clube, que tem uma casa verde como sede em pleno bairro de nome Casa Amarela. *Segundo o site do América, o terreno que será desapropriado no municipio de Abreu e Lima para a construção do CTA possui 12 hectares.

Publicado dia 13 de Outubro de 2010, no portal GLOBOESPORTE.COM.

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