América x Vitória: A grande final da nossa existência
A gente vive de finais. Não estou falando da final da fatura do cartão (que é sempre a mais dramática), mas sim daquelas que, de alguma forma, prometem um sentido para a vida. E eis que o futebol pernambucano nos brinda com mais uma: América e Vitória decidem a Série A2. E, vejam bem, decidem o acesso à elite de 2026. Um futuro, portanto.
O jogo decisivo será na Arena de Pernambuco, sábado, 15h. Com transmissão. De graça. Com imagens. E, desta vez, o futebol de província subiu de patamar: além da TV FPF Betnacional, a final será transmitida ao vivo pela TV Guararapes. Em 2025, o futebol de província parece ter aprendido as regras do marketing, ou, pelo menos, as regras da sobrevivência. É reconfortante saber que, apesar de tudo, ainda existe um canto onde a esperança não cobra ingresso.
O Mequinha Invicto e a lição do VAR
O Campeão do Centenário chega invicto. Oito vitórias, um empate. Melhor ataque, melhor defesa. Um 10, Renato Henrique, que marcou oito dos 27 gols da equipe. Uma máquina de eficiência no caos. Isso, por si só, é um feito. O futebol, como a vida, detesta a perfeição. A perfeição é chata e, no fim das contas, sempre previsível.
Mas o que me intriga é o tal longo período sem derrotas, que vem desde a bizarra tarde de 2022 contra o Torres, onde tiveram que jogar com apenas sete jogadores regularizados. Sete. O número mágico das tragédias bíblicas e das semanas de trabalho. Um time que resistiu com sete homens em campo tem, no mínimo, um mérito existencial. É o triunfo do improvável, a filosofia do "não tinha mais ninguém, então fomos nós".
A semifinal, vejam só, foi o grande teste de nervos. O América venceu o Caruaru City por 2 a 1, mas não sem antes encarar a pior das suas apresentações, um time nervoso em campo. E, fora dele, o choro nas redes sociais do Carauru City sobre seus gols anulados. Três marcados, um validado. O VAR, esse juiz eletrônico que só enxerga a linha fina entre o certo e o errado, agiu. E agiu corretamente, o que levou até o próprio América a comprovar em seu Instagram. O choro é livre, mas a tecnologia é implacável. No fundo, a gente agradece a intervenção divina do VAR: foi a lição perfeita de que a vitória, às vezes, chega com a alma na ponta do pé, e não com a beleza do toque. Que a lição tenha sido aprendida.
O Vitória e os fantasmas do Carneirão
Do outro lado, o Vitória, com seu volante-capitão, Escuro (um nome que parece saído de um conto de suspense), um dos destaques. Fez 3 a 1 na outra semi, mostrando garra e oportunismo. É a velha dialética do futebol: de um lado, a eficiência avassaladora do Mequinha; do outro, a garra e o oportunismo do Tricolor.
O retrospecto? Ah, o retrospecto. O retrovisor da história, com 16 embates desde que o Vitória deixou de ser Desportiva e se tornou Acadêmica. América 8, Vitória 6, Empates 2. E aquela lembrança de 2013, o 0 a 0 que valeu o título ao Vitória nos pênaltis, no quase extinto Carneirão. A vida é cheia de "em teses" que se desmancham na ponta da chuteira. Este ano, só sobe o campeão. O absoluto.
O apito, o VAR e o peso da história
Para garantir que a imprevisibilidade seja regrada, chamaram Diego Fernando. O árbitro das finais. 2020, 2023, 2024. Quase um totem do apito pernambucano. E, claro, o VAR, com o experiente Gilberto Castro Júnior. O futebol de 2025 é high-tech. Mas a emoção, o frio na barriga, a taça que sobe ou não sobe, continua sendo a mesma coisa que no campo de terra.
Mil ingressos para cada um. Dois mil sortudos que verão a história ser feita. Em decisão, como se diz, separa-se os homens dos meninos. A turma da Império Verde do América se vira como pode, arrumou até um ônibus com custo de R$ 10 para levar todos saindo ao meio dia da Praça do Derby. Chance única para quem mora longe e não consegue (ou tem receio) de chegar a tempo na "Tão Tão Distante" Arena de Pernambuco.
O América, centenário, seis vezes campeão pernambucano, primeiro campeão nordestino, invicto há mais de mil dias e com uma história de tradição, pioneirismo e de luta, não tem a prerrogativa de pensar na derrota. A invencibilidade não é um luxo; é uma exigência. O time já viu o pior de si na última rodada e, por ironia, saiu vitorioso. É o momento de impor o peso de uma camisa que se recusa a ser coadjuvante. Que suba o campeão, e que o campeão seja a tradução da invencibilidade no placar.



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