Ipojuca 2x4 América: a dois passos do paraíso
O futebol, meus amigos, é uma sucessão de farsas morais. E o que foi esta partida, senão a confirmação patética de um destino já traçado, onde a fatalidade não permitia outro desfecho senão a vitória do mais forte?
O América, o Mequinha invicto, não era um time; era uma ideia, uma abstração cruel com 90% de aproveitamento e a vaga na semifinal garantida. Entrou em campo no feriado como quem visita um parente rico: com tédio e a certeza de que a estadia será breve e inútil. O técnico Adriano Souza, um gestor de recursos, não um poeta, fez a sua parte: poupou o elenco, fez a gestão de crise dos cartões amarelos. O zagueiro Lucas Sales, por exemplo, foi sacado de campo logo após levar o cartão, num ato de sacrifício burocrático para não manchar a semifinal.
O primeiro tempo: afronta e restauração da ordem
Eis que surge a afronta moral! O Ipojuca, condenado ao limbo estatístico, já fora da briga, ousou desafiar a ordem cósmica e, de certa forma, criar ares de tragédia no agreste pernambucano. O ator desta tragédia severina era ninguém menos que Zé Felipe, um jogador que tem a fome de mil dias de jejum, encarnou a tragédia no atacado. Foi lá e abriu o placar. 1 a 0, logo aos 10 minutos de jogo!
Foi a prova cabal daquela nossa velha suspeita: todo jogo ganho na véspera é uma tragédia em potencial! O América, a máquina predestinada, colecionando 1122 dias sem derrotas, estava atrás do placar pelo desespero do moribundo.
Mas o sublime, meus amigos, reside na oportunidade da correção. E o América tem um homem que não vive de drama, mas de lei: Renato Henrique.
Este não é um atleta; é uma calculadora humana. Aos poucos, ele impôs a ordem. E logo aos aos 33 minutos, o nosso camisa 10 recebeu a bola e cravou a cabeçada do empate, um ato de justiça poética. Não bastou muito tempo para, três minutos depois, desferir o tiro da virada, uma bala de canhão que restaurou o decoro. O América não precisava de inspiração; precisava de fatalidade. E Renato Henrique é a encarnação dessa fatalidade.
Quando Esquerdinha marcou o terceiro gol aos 40 minutos, aproveitando o rebote, selando o 3 a 1 antes que o juiz fosse tomar a sua água, o placar era a prova de que a única verdade é a vitória do mais forte. O Mequinha ia para o intervalo com o orgulho a salvo, mas a alma, já sabemos, estava em risco.
O segundo tempo: o susto e o resgate do óbvio
O descanso, meus caros, não serviu para muita coisa. O Ipojuca, com a obstinação burra dos condenados, voltou a ter um lampejo de vida. O cronômetro mal tinha marcado cinco minutos, e o danado do Zé Felipe voltou a atacar. 3 a 2!
Eis o clímax da nossa melancolia! O Ipojuca não marcou um gol; ele feriu de morte o orgulho da máquina. O América, meus caros, ostentava a melhor defesa isolada do campeonato, com apenas três gols sofridos em sete jogos. Mas Zé Felipe, com seu nome de vaqueiro, não estava muito preocupado com isso, fez seu sétimo na competição, quebrou a estatística, transformando a defesa do nosso alviverde em algo vulnerável. A pureza estatística, a virgindade defensiva, estava maculada.
O Ipojuca, com a moral no céu, apertou. Tentava o empate, a tragédia completa e a raiva generalizada para quem apostou vitória do Mequinha em qualquer uma dessas BETs ai... Quem assistiu a peleja pela TV FPF, viu o narrador falando de "show de transmissão", mas aos olhos da torcida americana, em alguns momentos, beirava a ameaça do desastre. Coisas do futebol.
O América precisava de um ato de purificação. E quem nos salvou do desespero? O homem que andava apagado, mas que possui faro de gol: Pedro Maycon. Com a frieza de quem decide um duelo, recebeu a bola e, aos 16 minutos do tempo complementar, mandou para o fundo: 4 a 2. E com o gol, a paz voltou a reinar na Estrada do Arraial. O Ipojuca tentou brigar pela bola com o Nilson, mas a máquina já havia decidido o placar final.
Agora só faltam 2 jogos!
O América venceu. O Ipojuca se despediu com a honra de ter quebrado o recorde defensivo do Mequinha. A primeira fase ainda segue para sua última rodada, mas o América não tem nada a ver com isso e encerra sua participação na penúltima rodada. Em um grupo com cinco equipes teve a sorte de ter a última rodada como folga. Líder isolado, o Periquito chegou aos 22 pontos, encerrando a participação na primeira fase de forma invicta, com a melhor campanha entre todos os clubes da Série A2.
O América, agora, está tranquilo na semifinal. É incrível pensar que o América fez 25 gols em oito jogos. Uma média superior a três gols por partida. O segundo time que mais marcou tem nove gols. Fora isso, temos Renato Henrique como artilheiro absoluto, somando oito gols. E quando ele não está nos seus melhores dias, como aconteceu nos Aflitos diante do Vera Cruz, ele sabe servir como ninguém seus companheiros.
Estamos diante de um novo América. O clube aguarda o adversário do Grupo A, ciente de que a vitória é uma predestinação e que a Série A2 é apenas o purgatório que antecede a glória. O placar foi 4 a 2. A invencibilidade segue. E o nosso sonho de retornar à primeira divisão estadual está bem pertinho. Como diria a Blitz, estamos a dois passos do Paraíso.



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