América 2x1 Caruaru City: estamos na final!
Parada dura na Arena de Pernambuco. O sol da tarde, mais forte do que a razão, irradiava o campo neutro. E pela primeira vez na história secular do Campeão do Centenário, uma partida realizada sob a supervisão daquele que virou o novo deus do futebol: o VAR. E, como era de se esperar, repleta de polêmicas.
O América, com seu retrospecto de primeira fase avassaladora – 22 pontos somados e incríveis 91% de aproveitamento, reencontrava o Caruaru City, vice-líder de seu grupo com 13 pontos. Quase o dobro de pontuação que, em condições normais, colocaria o Alviverde da Estrada do Arraial como favorito em qualquer campeonato com regulamento minimamente decente.
Mas foi ao contrário. Na semifinal, as estatísticas passadas não garantem nada. No lugar dos Aflitos ou Arruda, o América teve que visitar a Arena de Pernambuco, campo neutro. E sem qualquer vantagem. Um empate levaria a decisão para os pênaltis; uma derrota apagaria toda a campanha brilhante liderada pelo treinador Adriano Souza.
A tensão pairava no ar, visível no comportamento dos jogadores em todo o decorrer da partida. Torcedores do América se amontoavam nas arquibancadas, com bandeiras tremulando e vozes entoando cânticos que misturavam fé e expectativa. Do outro lado, a torcida do Caruaru City mantinha esperança firme, buscando acreditar que o time do Agreste poderia surpreender o destino. O palco estava montado para mais uma tragicomédia futebolística.
O roteiro clássico e o VAR, esse novo inquisidor
O América não demorou a se comportar como o favorito que as estatísticas juravam ser. Aos 6 minutos, o roteiro do ataque implacável foi seguido: bola na área, falha na saída do goleiro Pedro Antônio — que parecia ter esquecido o manual de instruções na concentração — e Brown empurrou para as redes. 1 a 0. Um gol funcional, protocolar, que parecia iniciar a marcha triunfal.
Mas o Caruaru City tinha outros planos. O jogo se equilibra, e a bola, essa ingrata, passa a flertar com a área do Mequinha. O Leopardo trabalha, insiste. E o empate, senhores, parecia ter vindo aos 33 minutos. Leandro Costa, o veterano que não se cansa de correr, manda para o gol. Festa efêmera. O VAR, esse novo inquisidor da moralidade futebolística, entra em cena. A câmera, mais implacável que a lei, flagra o desvio sutil no braço de Grafite no início da jogada. O árbitro, em uma das pausas existenciais que só o futebol moderno impõe, sentencia: anulado. O Caruaru City aprende, na carne, que a linha do impedimento é, na verdade, a linha tênue entre a alegria e o desespero.
Mas o destino, às vezes, se cansa da mesquinhez. No último suspiro da primeira etapa (aos 50 minutos!) o Caruaru City cobra um escanteio. A bola de Edy encontra a desorganização. João Víctor surge no meio da área e acerta um chute sem perdão, sem chances para o goleiro Igor Rayan. 1 a 1. A Arena respira fundo. O empate, um ato de pura frustração para a torcida alviverde se tornava também uma injeção de adrenalina pura para o intervalo.
O Vendedor de Ilusões e a Cobrança que Virou Poesia
A segunda etapa começou com os nervos à flor da pele. O tempo passava, e a bola teimava em não entrar. O goleiro Igor Rayan, que já havia protagonizado momentos de susto ao sair da área (numa performance à la Manuel Neuer, como observou o comentarista, mas com mais risco do que arte) mantinha a meta fechada, enquanto o City tentava converter a raça em gol.
E então, Adriano Souza aciona a cartada de mestre. Lança no campo o homem que carregava a escrita no pé: Pedro Maycon. O jogador, em seu momento de silêncio e fé antes de entrar, era o 12º elemento, o fator imprevisível.
Faltavam poucos minutos. O cronômetro caminhava traiçoeiro rumo aos pênaltis. O Caruaru City, com Jair Pitbull na zaga, tentava conter a nova onda ofensiva. Mas o erro é humano e, em semifinal, fatal. Pedro Maycon recebe, avança, e Pitbull é obrigado a pará-lo com falta, recebendo o amarelo de brinde. A infração era na boca da área, um convite ao desastre.
O relógio marcava 39 minutos. Pedro Maycon ajeita. A barreira se posiciona, um muro de desconfiança. Pedro Antônio, o goleiro, flerta com a antecipação. O chute vem, não por cima, não no canto, mas naquele espaço indeciso, naquele vão de indecisão. O tiro é preciso, rasteiro, e fatal.
GOL DO AMÉRICA! 2 a 1. O grito do Mequinha era um misto de alívio e incredulidade. O camisa 7, o homem da fé e do talento, havia virado o jogo no detalhe mais poético do futebol: a bola parada.
A tragédia do acréscimo e o fim da jornada
A partir dali, vicenciamos o inferno dos acréscimos. O Caruaru City lançou mão de tudo: Diego Almeida, David Silva, e até o zagueiro Lucão vai para o ataque. O jogo se estende por longos 6 minutos, mais o tempo gasto com o bravo Lucas Sales, que saiu sangrando após um choque.
E a última cena, a mais cruel, estava reservada para o final. Com o cronômetro já beirando o infinito, Lucão participa de um lance. A bola entra na meta do América! O coração da torcida americana na arquibancada para por alguns segundos, mas o VAR ataca pela última vez. Para sorte do Periquito, o zagueiro, convertido em atacante, estava alguns centímetros à frente. Impedimento! O gol é anulado. O desespero agora vai para o lado dos caruaruenses e, de tabela, os corações alviverdes voltam a bater nas cadeiras da Arena de Pernambuco. O zagueiro Jair Pitbull, expulso após o apito final na revolta dos derrotados. Pra gente aqui, logicamente, pouco importava.
Não havia mais o que fazer. O América soube gastar os segundos que restavam com Renato Henrique e Hericles. O apito final veio como uma libertação para uns e uma punição para outros.
O América vence por 2 a 1 e sela sua invencibilidade, garantindo o lugar na final contra o Vitória. O futebol é sempre um drama em três atos, onde a diferença entre o herói e o coadjuvante é decidida por um chute, uma bandeira levantada, e a frieza de uma tela de monitor. E o América conseguiu se superar naquele que foi o pior jogo de sua temporada.
A vitória passou, mas a preocupação ficou. A final espera o Mequinha no próximo sábado, na Arena de Pernambuco, com transmissão da TV FPF e TV Guararapes. O adversário é o Vitória das Tabocas, e o reencontro é cruel: a mesma decisão de 2013, quando perdemos nos pênaltis após aquele empate sem gols no Carneirão. O futebol adora repetir traumas. O drama final é simples, mas brutal: só sobe o campeão. E vai ser a gente. Eu não tenho dúvidas disso.




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