1967
América Futebol Clube (PE)
campeonato pernambucano
Caruaru
Central SC
Estádio Pedro Victor de Albuquerque
Memórias Esmeraldinas
MEMÓRIAS ESMERALDINAS: Central 1x1 América em junho de 1967
Destaque do Jornal recifense Diário de Noite de 18 de junho de 1967 |
Neste ano foi promulgada uma nova
constituição para o Brasil, em substituição à constituição de 1946, cuja meta
era a de legalizar o regime militar e fortalecer o Poder Executivo em relação
ao Legislativo e ao Judiciário. Juntamente a este fato, foi instituído o
Cruzeiro Novo como a nossa nova moeda, vindo a vigorar durante três anos. Nasciam
em 1967 o artista Guilherme Fontes (ator no filme “Um Trem Para As Estrelas” de 1987 e na novela “Mulheres de Areia” de 1993), o ex-jogador italiano Roberto Baggio (vice-campeão
mundial em 1994 com a Itália), o ex-jogador Zinho (campeão da Copa do Mundo de
1994 com o Brasil), o escritor pernambucano Marcelino Freire (autor de “Contos Negreiros” de 2005), a cantora
Marisa Monte (autora da música “Ainda Bem”
de 2011), o músico norte-americano Kurt Cobain (fundador e ex-vocalista da
banda de rock Nirvana), o ex-jogador colombiano Andrés Escobar (foi assassinado
por traficantes de seu país, depois que um gol contra seu, desclassificou a
Colômbia da Copa de 1994), a atriz Nicole Kidman (vencedora do Oscar de melhor
atriz com o filme “Rabbit Hole” de
2010), o ex-atacante Fábio (campeão pernambucano de 1991 com o Sport), o
ex-meiocampista Vilson (campeão pernambucano de 1993 com o Santa Cruz) e o
ex-defensor Daniel (vice-campeão pernambucano com o Náutico em 1992). No mesmo
ano vinham a óbito o ator norte-americano Charles Bickford (ator em filmes como
“A Marca Rubra” de 1950 e “Hienas do Pano Verde” de 1957), o
escritor Guimarães Rosa (autor de “Grande
Sertão: Veredas” de 1956 e “Noites do
Sertão” de 1965), os ex-jogadores Flávio Ramos (campeão carioca de 1910 com
o Botafogo/RJ) e Héctor Scarone (campeão da Copa de 1930 com o Uruguai) e o
ex-cosmonauta soviético Vladimir Komarov (primeiro soviético a viajar ao
espaço, bem como, o primeiro a morrer numa missão espacial). Os sucessos
musicais ficaram por conta de “Coração de
Papel” de Sérgio Reis, “Namoradinha
De Um Amigo Meu” de Roberto Carlos, “A
Praça” de Ronnie Von e “Quem Não Quer”
de Jerry Adriani.
Ilustração de Central x América em 18 de junho de 1967 no Estádio Pedro Victor de Albuquerque em Caruaru |
O América em 18 de junho de 1967
fez a sua estreia no campeonato pernambucano do referido ano, contra o Central
de Caruaru no Estádio Pedro Victor de Albuquerque (Luis Lacerda). O time do
bairro de Casa Amarela terminou o campeonato de 1966 na quinta colocação
conquistando apenas oito vitórias em 24 partidas, atrás do trio de ferro da
capital e do próprio Central, que terminou o campeonato na quarta colocação. A
expectativa de uma campanha melhor do América neste ano, era grande e seu
tradicional adversário caruaruense (que já havia sido vítima americana no
Torneio Início), seria o primeiro oponente rumo a mais um tão esperado título
de campeão pernambucano.
Sr. Armindo Tavares, árbitro daquele Central x América |
Os alvinegros de Caruaru tinham
como ponto forte em sua equipe, a presença de um dos melhores quartetos
defensivos do estado, formado por atletas como Edmilson, Fernando Silva,
Jucélio e Da Cunha, que eram jogadores que não deixavam a desejar a nenhuma das
grandes equipes da capital. O ataque não era necessariamente o dos sonhos do
torcedor patativa, mas, o meio campo era de grande qualidade, com a presença de
Paulo Roberto e principalmente de Vadinho, um dos melhores meio-campistas da
história do futebol do nosso estado. O treinador Juths faria a escalação do
goleiro Dida, uma vez que, as negociações centralinas com o goleiro Waldemar do
Bragantino/SP haviam emperrado. O clima no América, do treinador argentino
Dante Bianchi, era muito bom, devido principalmente à conquista do Torneio
Início desbancando Central, Santa Cruz e Sport nesta sequência, credenciando a
equipe, como uma das mais fortes do campeonato. Os meias Inaldo e Dilson, além
do goleiro Ronaldo (recém-dispensados do Santa Cruz), figuravam como os pontos
mais altos do conjunto esmeraldino e eram peças de grande confiança de Dante
Bianchi.
Central x América em 1967. Do pescoço para baixo era canela! |
O Sr. Armindo Tavares apitou o
início da partida Central x América em Caruaru e durante todos os primeiros 15
minutos de jogo, o América mostrou melhor qualidade técnica, com visível
domínio de bola no setor de meio campo, o que deixou os centralinos perdidos e
na iminência de tomar o primeiro gol. Antes dos 5 minutos de jogo, o árbitro
pisou em um buraco do gramado do Estádio Pedro Victor de Albuquerque e sofreu
uma lesão no tornozelo direito, que o levou a mancar durante quase todo o jogo.
Com muito esforço o Sr. Armindo Tavares tentava acompanhar as jogadas “com uma
perna só”. A jogada violenta do defensor Edmilson do Central em cima do
atacante Déo do América, que causou muita irritação do dirigente Jaime Guerra,
dava sinais do que viria pela frente. A elogiável produtividade ofensiva
americana no jogo deu resultado aos 18 minutos quando o zagueiro centralino
Fernando Silva impediu a jogada alviverde com a mão, sendo imediatamente
assinalado o pênalti para os recifenses. Brito cobrou com perfeição e inaugurou
o placar em Caruaru. É GOL DO AMÉRICA! CENTRAL 0X1 AMÉRICA.
Jornal Diário da Noite de 1967 destacando o prejuízo ao América |
O jogo caiu em qualidade e
aumentou em violência. Os centralinos por não conseguirem acompanhar o América,
resolveram apelar para a pancadaria, jogo desleal e com inúmeras jogadas
ríspidas que podiam colocar em risco a integridade física dos atletas
americanos, tudo aos olhos coniventes do árbitro Armindo Tavares que nada
marcava. Acompanhando a revolta do treinador Bianchi, os atletas americanos
resolveram devolver a pancadaria na mesma moeda e em diversas situações atletas
das duas equipes trocavam insultos e pontapés, nada sendo marcado pela
arbitragem. O Central chegaria ao empate ainda no 1° tempo. Zé Dênio, que por
pouco não fraturava o maxilar em jogada anterior, aos 37 minutos num lance de
muita raça deixava tudo igual para a comemoração da torcida patativa. CENTRAL
1X1 AMÉRICA e assim terminava o primeiro tempo de partida.
Jaime Guerra critica a arbitragem |
O jogo continuava cheio de lances
truculentos na segunda etapa, entretanto, o maior destaque aconteceu aos 28
minutos. Cruzamento pela direita da ofensiva esmeraldina e a bola foi defendida
pelo goleiro Dida do Central que soltou a bola, vindo sobrar para o meio da
área onde se encontrava o atacante Babá do América que chutou fulminante contra
as redes centralinas. A comemoração foi grande e os atletas corriam emocionados
para abraçar o treinador, quando de repente, o árbitro carioca Armindo Tavares
anula o gol alegando impedimento do jogador Macrino no lance. O bandeirinha
Hélio Ferreira antes da defesa do goleiro do central já assinalava o
impedimento, sinal não visto pelo árbitro que deixou prosseguir a jogada e
mesmo que o jogador Macrino do América estivesse à frente, além de não ter
participado do lance, a jogada estava válida, uma vez que, o gol de Babá surgiu
do rebote do goleiro Dida. O Sr. Armindo Tavares assinalou o gol e depois o
anulou quando viu a sinalização de Hélio Ferreira.
A revolta do diretor Jaime Guerra contra o árbitro da partida |
As reclamações de forma bastante
acalorada com relação à atitude do árbitro foram muitas, eis que então, o Sr.
Armindo Tavares puxa o cartão vermelho do bolso e expulsa o atacante Babá por
reclamação. Explosão de raiva e de inconformismo toma conta dos americanos
presentes ao estádio, bem como jogadores e dirigentes. Jaime Guerra era um dos
mais revoltados. Levantou-se e foi embora, sendo que, chegando ao portão do
estádio, voltou e ficou a beira do gramado protestando contra o árbitro,
gritando e incentivando os atletas do América até o final da partida, de modo a
pelo menos não sair de Caruaru com a derrota. Chegou inclusive a ameaçar a
retirada do time de campo.
Palavras de Alcides Lima, então diretor do Central |
Jaime Guerra pediu ao goleiro
Ronaldo do América que sempre chutasse a bola para frente e não tentasse
jogadas ensaiadas com seus colegas de defesa. O treinador Dante Bianchi, mais
calmo, pediu que Jaime se tranquilizasse, pois, tal postura poderia deixar os
atletas ainda mais nervosos. A partida acabou empatada em 1x1, mas, a
inquietação continuou pela semana. A renda foi de 2.040 cruzeiros novos e na
preliminar de juniores o Central venceu por 1x0. A arbitragem de Armindo
Tavares irritou até os centralinos, pois, este assinalava faltas inexistentes
para os dois lados, além de invertê-las em favor do agressor. O próprio diretor
do Central, Alcides Lima, quando entrevistado pelo jornal recifense Diário da
Noite, reconheceu que o gol anulado do América foi legítimo e que não havia
ninguém impedido.
Palavras do árbitro em reportagem do jornal Diário da Noite |
De acordo com o próprio, o
Central foi obrigado a aceitar a indicação da FPF e que se fosse por sua
vontade, Armindo Tavares não apitaria jogo do Central, devido a erros do
passado. Segundo o árbitro (que criticou o gramado do estádio do Central devido
à torção no pé) a expulsão de Babá foi justa, pois este ofendeu o bandeira
Hélio Ferreira com palavras de baixo calão. Os dirigentes do América no dia
seguinte encaminharam ofício à FPF pedindo que o árbitro e o bandeira não
apitassem mais jogos do clube. Armindo Tavares faleceu de infarto em 2008 e
está sepultado no cemitério Parque das Flores no bairro do Sancho. Os atletas
desta conturbada partida foram os seguintes:
CENTRAL:
Dida;
Edmilson, Fernando Silva, Biu e
Da Cunha;
Paulo Roberto e Vadinho;
Joãozinho, Válter, Zé Dênio e
Fernando Lima.
AMÉRICA:
Ronaldo;
Valdemir, Brito, Genival e Necão;
Inaldo e Dilson;
Babá, Macrino, Jairo e Déo.
Com atraso de décadas:Arrota dor !
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