América 2x0 Vera Cruz: foi na base da valentia
Voltar aos Aflitos é mais do que jogar em campo neutro. Para o América, é como abrir um livro antigo e encontrar uma página que já estava escrita com carinho. A torcida já sabe: gramado bom, arquibancada colada no campo, e a sensação de que, ali, o Alviverde da Estrada do Arraial é maior do que parece. Foi a casa da Série A3 em 2024, e continua sendo o palco perfeito para novas histórias.
Depois da goleada sobre o Ipojuca e da folga na quinta rodada, o time de Adriano Souza teve uma semana inteira só de treino, ajustes e expectativa. A volta de Memo ao meio-campo e, principalmente, a reestreia de Pedro Maycon, recuperado de lesão, aumentaram a confiança. A promessa era de um América ainda mais forte para o returno do grupo. E promessa feita pelo América, o torcedor sabe, sempre vem com emoção.
Renan, teste pra cardíaco
A partida começou como se fosse ensaiada. O América, líder do grupo, assumiu a bola. O Vera Cruz, lanterna, recuou e rezou. E o torcedor, ah, o torcedor… esse viveu uma montanha-russa à parte: Renan com os pés.
Porque Renan não é só goleiro, é um gerador oficial de crises de ansiedade. Cada vez que a bola voltava pra ele, a arquibancada prendia a respiração. Ele dominava, saía da área, arriscava passes como se fosse um camisa 10. A cada recuo de John ou Lucas Sales, um “ai, meu Deus” ecoava nos Aflitos. Era coração na boca, palpitação, aquele sufoco que só quem é América entende.
Mas, no fim, vinha o alívio: a falha nunca virava gol. Renan tem sorte. E sorte, no futebol, vale tanto quanto talento. Ainda mais quando, debaixo da barra, ele mostra a precisão cirúrgica que todo goleiro precisa ter. Seguro com as mãos, ágil nas defesas, firme quando é chamado. E aí está a combinação perfeita: goleiro bom, que transmite confiança debaixo da trave, e que ainda conta com a sorte. Para o torcedor esmeraldino, isso é sinal de que as coisas estão no caminho certo.
Renato Henrique, o mito humano
Do outro lado do campo estava Renato Henrique, o até então, artilheiro da Série A2, o homem que até então parecia infalível. Já tinha quatro gols em quatro jogos, era o terror das zagas e dono da frase que já virou bordão: “Deus perdoa, Renato Henrique não.”
Pois bem, aos 15 minutos, a chance de escrever mais uma página dourada caiu nos pés dele: pênalti. O estádio silenciou. Renato respirou, correu, deslocou o goleiro. E a trave respondeu com um estrondo seco, desses que fazem o coração parar por um segundo. A bola voltou, mas o orgulho ficou preso no poste.
Na arquibancada, primeiro veio o silêncio, depois o riso nervoso, e logo a decisão coletiva: nós perdoamos. Porque até os mitos falham. E se até Renato Henrique, o homem que não perdoa, erra, cabe à torcida esmeraldina a generosidade de perdoar por ele. Gol perdido vale quando se tem crédito, e crédito é o que não falta para o artilheiro.
O gol da paciência
O primeiro tempo ficou marcado pela pressão incessante e pelas oportunidades desperdiçadas. Renato teve outras chances, de cabeça, de voleio, mas a bola teimava em não entrar. O jogo parecia daqueles em que a bola não queria conversa. Mas o futebol, às vezes, premia a insistência.
No segundo tempo, a paciência foi recompensada. Aos 12 minutos, escanteio na medida, Jonathan Lessa subiu como se fosse o dono do ar, testou firme e abriu o placar. Explosão verde nas arquibancadas, alívio no campo, e a sensação de que a lenda se escrevia do jeito certo.
O herói que retorna
Mas toda epopeia precisa de um personagem que volte das sombras. E esse foi Pedro Maycon. O atacante que rodou pelo América de Natal, que ficou meses parado por lesão, que parecia esquecido nos bastidores. Voltou ao time justo nesse domingo e fez do retorno um capítulo inesquecível.
Aos 29, a jogada fluiu como quem escreve destino. Renato recebeu e, se o dia não estava para ser artilheiro, ativou a skin de maestro. O camisa 10 da Estrada do Arraial tocou para Luís Felipe, que achou Pedro Maycon livre. O chute foi certeiro, como se o tempo todo ele tivesse guardado esse momento. Gol de reestreia, gol de redenção, gol de quem transforma cicatrizes em força. O 2x0 não foi apenas número: foi símbolo.
Estrada do Arraial, terra de valentes
O apito final confirmou a vitória, mas a crônica não cabe no placar. Porque o América, mais do que pontos e tabelas, é feito de personagens que vibram. Renan, o goleiro-líbero que transforma o coração do torcedor na bateria da Império Verde. Renato Henrique, o artilheiro implacável que mostrou à sua torcida que nem sempre vai ser seu dia de artilheiro, mas que jamais deixará de lutar. Pedro Maycon, o herói que retorna para lembrar que no América sempre há espaço para recomeços.
No fim, o Estádio dos Aflitos foi testemunha de mais uma epopéia esmeraldina. E a torcida saiu com a certeza de que ser América é viver de luta, rir dos tropeços, perdoar os craques e celebrar cada vitória como se fosse a primeira.
Porque ser América é foda. É tradição, não é moda.
Nosso treinador precisa avisar ao bom goleiro Renan que ele "ainda" não é um Rogério Ceni, e muito menos, um Manuel Neuer
ResponderExcluirBaita texto, eu gosto da ousadia do nosso goleiro, provável que seja orientado pela tática do prof Adriano
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