A PANDEMIA E O CAMPEONATO PERNAMBUCANO: ENTRE A ATUALIDADE E O PASSADO LONGÍNQUO

Time do América, Campeão de 1918.


 O mundo vive um período difícil em sua história contemporânea que é a pandemia da covid-19, ou corona vírus. Diversas nações do mundo têm sofrido fortes impactos econômicos e sociais com a disseminação rápida da doença, ocasionando várias mortes por todo o globo terrestre. Os governantes tem buscado adotar medida de combate a esta pandemia, e no futebol, a situação não é diferente, a paralisação do futebol foi imediata.

O curioso, é que o futebol já experimentou uma paralisação semelhante: a pandemia da gripe espanhola em 1918. Naquele ano, a Primeira Guerra Mundial chegaria ao seu fim, mas uma nova ameaça global se emergia, que era a essa nova gripe que pegou cientistas do mundo inteiro de surpresa. No Brasil, a gripe chegou em setembro de 1918 através de um navio inglês que vindo de Lisboa, desembarcou doentes no Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Ainda no mesmo mês, marinheiros vindos de serviço militar no Senegal, desembarcaram doentes no Recife. O Brasil ainda veria a morte do seu presidente eleito Rodrigues Alves, que não teve tempo nem se assumir o seu mandato. E aqui em Pernambuco perderíamos o presidente da Liga Desportiva Pernambucana (LDP), o tenente da marinha Henrique Jacques. A Liga mudaria seu nome para Liga Pernambucana de Desportos Terrestes (LPDP).

A esta altura, o Campeonato Pernambucano de 1918 seguia seu curso natural até o dia 22 de setembro,  data na qual ocorreu a ultima partida antes da paralisação, com a vitória do Santa Cruz em cima do Náutico por 2x0. Até ali, o América liderava com folga a competição que tinha modelo de pontos corridos com turno e returno. A equipe esmeraldina possuía 12 pontos, seguido pelo Santa Cruz com 8 e Sport com 6.

Naquela época, o América tinha um time pronto e determinado a faturar o título estadual, liderados pelos irmãos Tasso.  Com Jorge Tasso no gol e Zé Tasso no ataque, como artilheiro da equipe, o América liderou com folga o campeonato e rumava a sua primeira conquista. E não adiantou as contratações do Sport vindas do exterior na tentativa de buscar seu tri-campeonato, o América estava com um esquadrão já formado desde o início da competição, e trouxe mais 3 atletas oriundos de clubes de São Paulo: o zagueiro Alexi e o atacante Bermudes, da Associação Atlética das Palmeiras, e o atacante Perez I oriundo do Ypiranga. Uma curiosidade é que Zé Tasso começou a competição na equipe do Santa Cruz, mas acabou indo para o América por imposição da família que que era alviverde.

Goleiro Jorge Tasso
O Artilheiro Zé Tasso




No período em que a competição esteve suspensa, muitos foram os debates na opinião pública pela volta do futebol e isto já mostrava a importância do esporte na sociedade. Médicos, militares, dirigentes e até políticos debatiam publicamente esta possibilidade, enquanto os torcedores liam atentamente os jornais, ansiosos pela bola voltar a rolar.
Com o campeonato paralisado, a situação se agravou em outubro, quando chefe da Saúde Pública do Estado faleceu de gripe espanhola e os jornais anunciavam dezenas de mortos enterrados no principal cemitério do Recife (Cemitério de Santo Amaro). E ao saber que havia uma movimentação para o retorno do certame estadual pela Liga, o diretor de saúde pública Octávio de Freitas, emitiu um documento pedindo para que os jogos fossem adiados para dezembro.

Campo da Jaqueira, ou "América Parque", onde o Periquito mandava seus jogos.

Depois dos registros de casos da doença estarem diminuindo consideravelmente, o campeonato pernambucano retornou no dia 8 de dezembro com o Santa Cruz vencendo o América por 2x0 e diminuindo um pouco a vantagem dos alviverdes. Mas no dia 22, o América aplicou uma sonora goleada de 10x1 no Torre, e reafirmou seu favoritismo ao título. Ao Santa, restava vencer o Sport e continuar na briga pelo título, o que não aconteceu, pois a equipe rubro-negra venceu os corais por 1x0, impedindo o Santa Cruz de alcançar o América e o título ficando pela primeira vez com o Periquito.
Para cumprir tabela, o América subiu em campo já em janeiro de 1919 e no calor de sua torcida no Campo da Jaqueira, bateu o Sport por 3x1 fechando com chave de ouro a sua campanha vitoriosa daquele ano.

Recorte de jornal da época.
Troféu de 1918.

Hoje, vemos a que a bola voltará a rolar, porém de portas fechadas. Torcemos pelo espetáculo do futebol e também para os que fazem o espetáculo gozarem de boa saúde, que são os jogadores, árbitros e demais dirigentes. O América aguarda definições para o Campeonato Pernambucano da A2, para quem sabe voltar a fazer bonito e levantar mais um troféu, assim como foi no longínquo ano de 1918.

Poster do América, Campeão de 1918.

2 comentários:

seu comentário vai ser analisado,necessário deixar contato

Tecnologia do Blogger.