Do sonho ao pesadelo

“Tudo no América é mais difícil”, frase recorrente do saudoso Sergio Serpa que pelo visto segue em vigor mesmo após sua partida. Vale lembrar pouco antes do início da Série A2 2022 o Campeão do Centenário apresentava uma nova equipe para o gerenciamento do futebol profissional, encabeçada na maioria por ex-gestores do Santa Cruz, voltava trazer esperança mesmo com polêmicas entre clube e a FPF antes do início da competição.

Dentro de campo começava despontar não apenas como favorito ao acesso, mas como um dos prováveis candidatos ao título. Contratações oriundas do tricolor recifense a exemplo de Ítalo Silva e João Erick, jogadores da cobra coral no Brasileiro da Série D, a volta de Geaze e Kássio, ambos com passagens importantes pelo América, dava sensação de segurança para os poucos torcedores alviverdes.

 

Apesar da primeira rodada atípica disputando uma partida inteira apenas com oito atletas regada a divergências e outras razões (clique aqui para relembrar), o América demonstrou poder de reação nas outras rodadas: empate com Vera Cruz em 1 x 1, 2 x 1 em cima do Vitória, goleada de 5 x 2 no Sete de Setembro e por último empate com Santa Fé pelo placar de 1 x1.

O que aparentava ser uma temporada de reconstrução agora corre sérios riscos devido suposta escalação irregular de um jogador na partida diante do Vera Cruz pela segunda rodada da competição. O atleta em questão possuía uma considerável suspensão de 13 jogos, entretanto, foi escalado pelo treinador que comandou o periquito naquela ocasião e nas disputas subsequentes, sendo assim enquadrado no art. 214 da CBJD pós denúncia, o julgamento está marcado para essa segunda-feira (24/10) e até lá o campeonato segue paralisado.

Caso similar na mesma edição foi com o Ypiranga de Santa Cruz do Capibaribe sendo excluído pela escalação irregular do zagueiro Márcio onde o TJD entendeu o não cumprimento de quatro jogos de suspensão enquanto o atleta defendia outra agremiação (confira a matéria aqui). Tal situação faz aumentar o receio que o América tenha destino parecido e com isso Sete de Setembro herdar a vaga do periquito.

O que diz o Art. 214 do CBJD?

Art. 214. Incluir na equipe, ou fazer constar da súmula ou documento equivalente, atleta em situação irregular para participar de partida, prova ou equivalente. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009). PENA: perda do número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente, e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais). (NR). § 1º Para os fins deste artigo, não serão computados os pontos eventualmente obtidos pelo infrator. (NR). § 2º O resultado da partida, prova ou equivalente será mantido, mas à entidade infratora não serão computados eventuais critérios de desempate que lhe beneficiem, constantes do regulamento da competição, como, entre outros, o registro da vitória ou de pontos marcados. (NR). § 3º A entidade de prática desportiva que ainda não tiver obtido pontos suficientes ficará com pontos negativos. § 4º Não sendo possível aplicar-se a regra prevista neste artigo em face da forma de disputa da competição, o infrator será excluído da competição. (NR).

Qual a postura do América após a denúncia?

A última semana do elenco esmeraldino foi atípica com os atletas liberados para manterem a forma física em suas casas com previsão da presencialidade após a resolução do julgamento. Enquanto isso a gestão do futebol profissional prepara a defesa em cima da tese de ter sido enganado por pessoas sobre a documentação do jogador pivô da recente polêmica que poderá custar o restante da temporada.

Novamente o clube seis vezes campeão pernambucano demonstra atritos com a federação pernambucana de futebol ao emitir nota oficial nas redes sociais (clique aqui) com o seguinte conteúdo:

“As pessoas, torcedores, envolvidos inocentes com o futebol se questionam por que o futebol pernambucano está desse jeito, não é difícil responder! Em pouco mais de um ano imerso nesse submundo, já deu para entender muita coisa. O futebol pernambucano está repleto de covardes, gente de mau caráter e bandidos. Existem quadrilhas hoje operando no futebol pernambucano, e infelizmente muita gente com medo de falar por ter rabo preso. Jogadores, profissionais decentes, todos com medo de abrir a boca para não serem excluídos do mundo que eles podem ter seu sustento. Nunca sairemos disso, sempre será essa nojeira. Clube vendendo jogo, presidente entregando seu próprio goleiro, pessoas paralelas vendendo informações, pensem num lugar asqueroso. Criou-se um mercado paralelo para aqueles que só querem se aproveitar e ganhar dinheiro com o trabalho sério dos outros, alguns clubes deveriam ser banidos do futebol, assim como alguns indivíduos de péssima índole. O América mais uma vez sofre com tudo isso que acabamos de citar acima e vamos tentar nos defender contra o indefensável. Podem ter certeza, quem trabalha sério, com honestidade e dignidade nunca vai ter vez nesse ambiente que foi criado no futebol pernambucano.” Palavras do nosso diretor executivo sobre tudo que foi feito contra o América e outros times que foram muito prejudicados nesse campeonato da série A2.

Como isso pode interferir no caso?

A posição áspera da atual gestão do futebol americano sobre a condução da FPF, vale ressaltar denúncias duras que num futuro próximo tais afirmações possam ser cobradas para explicações, revela resquícios do início conturbado envolvendo candidatos à presidência da instituição momentos antes do primeiro pontapé na Série A2 2022. Dando entender perseguição (política?) com o clube da Estrada do Arraial, entretanto, vale salientar o caso do zagueiro do Ypiranga e sua similaridade com a situação do jogador alviverde.

Caso a tese de terem sidos ludibriados por terceiros não seja sustentada perante julgamento pode revelar que a falha da escalação partiu da própria direção em não conferir a situação dos seus atletas para saber se estavam aptos a entrarem em campo, atribuição normalmente dada aos supervisores de futebol que quando liberados possuem acesso ao Boletim Informativo Diário (BID), sistema de verificação para registro de jogadores e saber se existe pendências em suas fichas como, por exemplo, monitorar se há algo que impeça de jogar uma partida oficial.

No fim das contas quem sofre com tantos embrolhos são os poucos torcedores (cada vez mais raros) onde durante décadas vivenciam situações turbulentas que apenas mancham a história desse importante clube de futebol pernambucano levantando a máxima de que tudo no América é mais difícil.